Thursday, February 7, 2013

Ensinando a ser cidadãos através do ensino de línguas estrangeiras

Verbos, substantivos, objeto direto, sujeito, predicado, advérbio, tempos verbais, pragmática, semântica, morfologia, sintaxe, fonética, palavras, expressões e conjunções. Será que aprender uma língua estrangeira se resume a ensinar só isso mesmo?

Fome, lixo, miséria, desigualdade social, sexismo, racismo, consumismo exacerbado, erotização de crianças, torturas a pessoas e a animais, adultização de crianças, busca pelo corpo perfeito, desmatamento, poluição, desrespeito à declaração universal dos direitos humanos e outros problemas estão presentes no nosso dia a dia e muitas vezes não entram nas aulas de línguas estrangeiras. Sabemos explicar o porquê dessa ausência?

Como podemos tocar nesses assuntos em nossas aulas de línguas?

Comecei a mudar minha forma de ensinar línguas estrangeiras em 2012 quando dei aulas de português na Duke University como professora visitante. Lembro muito bem quando minha diretora Magda Silva me disse que eu não poderia simplesmente ensinar português como vinha ensinando há quase 20 anos. Eu tinha que colocar mais conteúdo social, político, econômico, antropológico e histórico nas minhas aulas já que eu daria aulas para alunos da graduação e da pós-graduação. Só ensinar as funções linguísticas do cotidiano (perguntar o nome, as horas, a idade, falar da rotina, etc) não era função do ensino de línguas estrangeiras na Duke. Eu deveria ensinar muito mais do que isso e comecei a refletir de que maneira eu deveria fazer a partir de então.

O uso de documentários nas minhas aulas como Ilha das Flores: http://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8, Brazil, a racial paradise? http://video.pbs.org/video/1906000944/, Vida na Favela da Mangueira: http://webdocs.dw.de/rio/english e outros me fizeram refletir muito e mudar minha forma de ensinar. Após os alunos terem assistido a cada documentário, tivemos discussões muito ricas e redações cheias de opiniões importantes sobre cada assunto.

A língua passou a ser um instrumento para o nosso amadurecimento como cidadãos do mundo que querem um mundo melhor do que esse em que vivemos. Passei a amar ainda mais dar aulas assim!

É por isso que minhas aulas aqui no Brasil têm sido direcionadas a assuntos como esses, e a língua é ensinada a partir desses contextos. O mesmo tem sido feito com minhas aulas de tecnologias no ensino de línguas. Estamos elaborando projetos que visam ensinar línguas usando tecnologias e que possam beneficiar as pessoas da escola e da comunidade.

Hoje mesmo falamos muito sobre a questão do consumismo desenfreado que deixa muitas pessoas tristes porque não têm dinheiro para comprar tudo que as mídias anunciam e que poluem cada vez mais o nosso planeta. Qual é então o papel do professor diante desse contexto? Continuar a ensinar línguas só com as estruturas linguísticas?

Para minha alegria, mudanças já estão acontecendo! Fiquei muito feliz ao saber que minhas alunas de francês estão usando o filme La Belle Verte http://www.youtube.com/watch?v=tYxS_7ZJmHI sugerido pela aluna Mayara La-Rocque para questionar uma série desses problemas mencionados. A aluna Jéssica Couto relatou sua experiência com o uso desse filme na sua aula de francês em um curso de línguas e ficou contente com as reflexões feitas por seus alunos e sentiu que eles saíram da aula bastante pensativos sobre o que viram. Ensinar é isso! É plantar sementes para que tenhamos um mundo melhor!

Você forma cidadãos em suas aulas de línguas também?

Até breve!

2 comments:

Jéssica Waldorf said...

Hey, professora !!! Adorei o texto. Você tem feito muito por nossa turma e é um privilégio ter a senhora como professora. De fato, meus alunos estão pensando diferente depois do filme e da discussão. E ninguém falou de passé composé ou futur proche. Mas a maioria deles utilizou. Agora vou procurar outros filmes ou documentários que desperte essa consciência, não só neles, como também na própria professora: MOI! rs

Jéssica Waldorf said...

Professora, como já disse, estou muito emocionada. Fico feliz que eu esteja conseguindo inovar nas aulas de LE e ajudar na conscientização dos alunos. Eles com certeza saíram de lá muito pensativos.

Bjsss