Saturday, December 29, 2012

Meus alunos são pessoas

Será que os alunos são realmente levados em consideração no universo das escolas?

Há muitas técnicas, metodologias e abordagens de ensino. Há livros, apostilas e cadernos de exercícios. Há quadros, carteiras e apagadores. Há diretores, coordenadores, supervisores e professores. Há testes, provas e exames. Tudo para os alunos. Para os alunos mesmo?

Parece que o sistema de padrões, regras e médias acredita que todos os alunos são iguais e aprendem tudo ao mesmo tempo. Parece que os sentimentos e contextos pessoais não são levados muito em consideração porque todos têm que fazer as temidas provas mesmo que não estejam preparados para ela. Se houve separação dos pais, se um deles perdeu o emprego, se tiveram que sair de sua casa por problemas econômicos, se alguém da família está doente, parece que nada disso é levado em consideração.

Lembro perfeitamente quando não tirei um 10 nas provas bimestrais. Foi em 1983, quando eu estava na 3a. série do ensino fundamental. Tive infecção intestinal e fiquei internada durante alguns dias no hospital. Faltei aulas, não estudei o suficiente e tirei meu primeiro 7. Lembro quando fui pegar o meu pacote com as provas corrigidas que tinha na capa com uma árvore colorida com lápis de cor. Ao me entregar isso, a professora me perguntou:
- "Puxa, Cintia, nenhum 10? Que pena!"
Parece que ela nem notou as minhas faltas e nem perguntou porque eu havia faltado. Fiquei muito triste e me senti péssima por não ter tirado notas melhores. Achei que o problema era meu mesmo, quem mandou eu ficar doente?

Vamos conhecer nossos alunos.


Já faz algum tempo que uso a primeira aula do semestre para conhecer meus alunos. Pergunto os objetivos deles ao fazer um curso de inglês, quero saber o que gostam e o que não gostam, o que amam, como praticam a língua inglesa se já sabem algo e por aí vai. Enquanto eles falam, eu anoto tudo no meu caderno de planejamento de aulas. Eu sempre leio essas informações para conhecê-los melhor.

Lembro que quando dei aulas para crianças em uma escola montessoriana, usei como personagens de uma explicação a Turma do Chaves. Como? A Turma do Chaves? É isso mesmo! Como meus alunos sempre falavam neles, nada mais pertinente do que usar esses personagens para ilustrar minhas aulas. Foi muito interessante ver que quando mencionei Chaves e Chiquinha, todos os olhos se voltaram para mim! Mágica! :-) Logo depois de pequenas explicações, os alunos trabalhavam em grupos, em mesinhas com 4 alunos e todos podiam interagir e aprender colaborativamente. Enquanto eles estavam trabalhando em grupos com apoio de livros, exercícios e dicionários, eu caminhava pela sala para auxiliar quando fosse necessário.


Nossos alunos participam das nossas aulas ativamente?

Por vezes se ensina do mesmo jeito para todas as turmas. Repetem-se as palestras, ops, palestras? Isso mesmo, se as nossas aulas se resumem a apenas o professor falar a aula inteira, sem que haja interação com e entre os alunos, isso não é aula, é palestra mesmo. E ainda queremos que os alunos fiquem calados, nos olhando e prestando atenção só em nós. Haja paciência para passar cerca de 5 horas dessa maneira durante muitos dias de nossas vidas. Só ouvindo e nada mais.

Lembro que pouquíssimas vezes pude participar ativamente de aulas quando eu estava no ensino fundamental e médio. As aulas eram muito cansativas porque só quem tinha direito a falar era o professor. Lembro do professor de inglês do 3a. ano do ensino médio que parecia um robô dando a palestra. Meus colegas faziam a maior bagunça e ele fazia de conta que estava todo mundo prestando atenção. Eu ficava impressionada com aquela situação.

Uma aula colaborativa para mim é aquela que eu começo com a chamada (quando faço uma pergunta para que os alunos pratiquem vocabulário), faço o aquecimento, ensino a fórmula quando pertinente, faço uma pequena revisão da aula anterior e faço uma tempestade de ideias sobre o tópico a ser estudado. Depois pergunto aos alunos o que falamos sobre determinado tópico e os divido em grupos para que eles mesmos aprendam entre si. Deixo materiais e computador com internet à disposição para que eles aprendam juntos. Eu fico andando pela sala para ajudar no que for necessário.

Pensemos nas nossas aulas, será que estamos dando palestras ou aulas? Nossos alunos estão tendo a chance de aprender colaborativamente? Eles podem falar? Levemos materiais para nossas aulas, coloquemos os alunos em grupos de 4 alunos para que aprendam juntos.

No próximo post falarei sobre um exemplo de aula de inglês que fiz na universidade em língua inglesa 1 para ilustrar o que estou escrevendo.

Até breve!

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