Temos aprendido cada vez mais que a aprendizagem de uma língua deve ser através da comunicação real. Com apenas um aperto de botão podemos falar com pessoas no mundo inteiro. No entanto, lembro que Maria Bossa falou da importância de fazer algo mais palpável em nossas aulas, como cartões, cartas e outros materiais.
Meu aluno Jean Santos resolveu inovar com sua turma em uma escola de línguas e propôs que seus alunos trocassem cartões postais da nossa cidade com alunos que moram nas Ilhas Marshall.
Para que vocês saibam mais como foi esse projeto, Jean Santos gentilmente nos conta detalhes na entrevista abaixo:
Entrevista com Jean Santos
Blog: O que te levou a fazer essa atividade com teus alunos?
Jean: Em uma das primeiras aulas de
Tecnologias, foi dito algo sobre um “Ted Bear viajante” e essa ideia me chamou
muito a atenção, mas como eu sei que ainda não tenho experiência suficiente
para organizar algo dessa magnitude, resolvi pensar em outra atividade. Aulas
depois, Rodolfo (meu colega de sala) falou que levou cartões-postais para sala
de aula para que os alunos conhecessem o gênero, então a senhora falou que ele
poderia tentar enviar para outro país. Então, eu pensei: Por que não?
Eu adoro receber cartas (exceto cartão de crédito e banco), é uma alegria que
um e-mail não pode proporcionar, sem contar que a mensagem parece ser mais
pessoal. Pensei que os meus alunos também poderiam gostar, afinal poucos já
haviam recebido uma carta na vida, receber um postal de outro país é mais
difícil ainda. Além disso, o cartão-postal seria uma boa atividade escrita para
os alunos, pois desta vez teria um propósito, portanto menos artificial (eles sabem
que há alguém em outro país interessado no que eles vão escrever).
Por último, eu gostaria de
proporcionar o uso real da língua inglesa aos meus alunos e mostrar a eles que
o inglês é um idioma que os liga ao mundo, não apenas EUA ou Inglaterra.
Blog: Onde você conseguiu o contato com uma professora estrangeira?
Jean: Eu me cadastrei no site www.epals.com
e lancei a proposta em fevereiro, mas não obtive resposta. No início de
março, eu atualizei uma foto minha e a minha proposta de projeto com cartão
postal foi publicada novamente. Três dias depois eu já tinha três “replies”,
respondi a todos, mas o projeto deu certo com a professora Kate McDermott das
Ilhas Marshall, que planejou a troca de cartão postal atenciosamente.
Blog: Os alunos gostaram? Como reagiram quando disseste que iriam fazer isso?
Jean: Quando recebi a mensagem da
professora McDermott, postei a resposta no nosso grupo do Facebook
imediatamente. Perguntei se eles aceitavam fazer a troca de postais e eles
aceitaram na hora. Eu confirmei tudo com a professora e alguns começaram logo a
pesquisar sobre as Ilhas Marshall e acharam o local lindo. Alguns disseram que
estavam empolgados em receber uma carta de um estrangeiro.
Blog: Foram os alunos que trouxeram os postais?
Jean: Achar cartão postal em Belém é
muito difícil. Eu mesmo, para conseguir concluir uma troca de cartão postal,
tive que pedir para uma amiga trazer alguns de São Paulo. Eu liguei para os
alunos um dia antes da atividade para ver se eles tinahm conseguido os postais.
Para aqueles que não conseguiram, eu sugeri que trouxessem uma foto de algo
típico do nosso estado. Eles poderiam imprir a foto em um cyber café perto da
escola, cada foto custa um real.
Blog: Em que nível os alunos estão?
Jean: Primeiro nível. Já estudaram saudações
e despedidas, informações pessoais, roupas e começaram o presente contínuo.
Blog: Quando vocês esperam receber os postais das Ilhas Marshall?
Jean: Recebi um e-mail da professora
Kate dizendo que ela já enviou os postais, então acredito que eles devam chegar
até o dia 15 de maio.
Blog: Notaste alguma diferença entre a escrita do postal e a escrita em uma
outra atividade?
Jean: Na prova de produção e
compreensão da escola, as redações deles foram muito artificiais, meramente
gramaticais e mecânicas.
Desta vez, com os cartões
postais, o texto teve uma preocupação diferente, eles queriam se fazer entender,
eles liam e reliam a frase várias vezes num rascunho antes de fazer o oficial.
Eles montaram frases mais extensas do que “My address is...”. Alguns deles até
falaram onde estudam, do que gostam de fazer e até mesmo para adicionar no Facebook.
Coloquei no quadro algumas frases simples sobre o clima e a partir dela eles
montaram as deles mesmos (algumas foram simples e outras mais complexas para o
nível deles).
Algo óbvio que eu não previ foi a
estrutura da escrita do cartão postal/carta. Eles se esqueciam de cumprimentar
a pessoa no início do rascunho pelo fato de eles nunca terem feito isso antes.
Acho que eu deveria tê-los preparado melhor apresentando alguns postais que eu
recebi para que eles pudessem ver a estrutura melhor.
Por fim, com essa atividade, pude ver o que meus alunos já conheciam de inglês,
já que eles precisaram utilizar esse conhecimento para escrever a mensagem
deles.
Blog: Eles mesmos mandaram os cartões para alunos das Ilhas Marshall?
Jean: Eu preferi eu mesmo enviar os
postais, já que foi minha primeira experiência fazendo esse tipo de projeto.
Agora vejam fotos dos alunos fazendo esse projeto:
Como pudemos observar, esse projeto despertou o interesse nos alunos em aprender mais a língua inglesa. Já que eles produziram um texto para seus amigos por correspondência, a vontade de escrever foi muito maior e significativa.
Parabéns pelo excelente projeto, Jean Santos! Sua entrevista foi muito esclarecedora e espero que mais professores de línguas se inspirem no seu exemplo e proporcionem essas interações com seus alunos.
Você já fez um projeto de troca de cartões postais com seus alunos também?
Até breve!